O último golfinho-corcunda do Atlântico na Baía de Dakhla?

O último golfinho-corcunda do Atlântico na Baía de Dakhla?

Em Abril de 2022, o CCAHD foi contactado através do seu site no Facebook por membros da Trouk Youth Association to Protect the Gulf of Wadi Daha (TYA), uma pequena ONG fundada por operadores turísticos de vida selvagem com o objectivo de proteger o ambiente marinho e costeiro da Baía de Dakhla, Sahara Ocidental (جمعية شباب شباب تروك لحماية لحماية خليج وادي الذهب Trouk é o nome de uma ilha na parte mais a norte da baía).  A mensagem incluía um link para um vídeo que mostra um golfinho-corcunda do Atlântico (Sousa teuszii- AHD) macho, solitário, a nadar com dois golfinhos-roazes.  Comunicações adicionais com Hamid Bouceta, vice-presidente do YTO, e com Mrieh Abdel Wadud (Dahi), que efectuam regularmente excursões de vida selvagem na zona, indicam que vêem regularmente este solitário AHD com a sua “família” de golfinhos-roazes. Membros da TYA dizem que têm seguido este macho desde que era uma cria em 1995, quando foi visto regularmente com uma fêmea que se acredita ser a sua mãe. A partir de 1997, esta fêmea não foi mais observada, e o macho foi sempre visto sozinho até 2016, quando começou a associar-se aos golfinhos-roazes.

A nossa grande questão agora é se este macho é o último AHD restante em toda a Baía de Dakhla, ou se poderia haver mais AHD algures na Baía fora da área onde o TYA realiza regularmente os seus passeios e actividades?

Historicamente, a população de AHD na Baía de Dakhla era mais numerosa.  Em Fevereiro de 1996, um grupo de cientistas realizou um levantamento de cetáceos nas águas costeiras do Sahara Ocidental.  Durante os 750 km de levantamento nas zonas costeiras entre a baía de Cintra e Dakhla, os únicos cetáceos observados dentro da baía de Dakhla foram: 6 grupos de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus) e 4 grupos de golfinhos-corcunda do Atlântico.  Nessa altura, o tamanho médio do grupo de AHD era de 6,9 indivíduos, e as duas espécies nunca foram observadas juntas.  Este estudo também documentou um juvenil de AHD morto, que tinha sido enredado na linha de uma armadilha para polvos.¹.

Catorze anos mais tarde, em 2010, dois investigadores de aves documentaram um grupo de três AHD no extremo norte da baía de Dakhla, sobrepondo-se à área das observações de 1996. Estes autores relataram que outros investigadores de aves e grupos de natureza locais a trabalhar na área nos anos seguintes, até 2017, nunca tinham visto mais de três golfinhos-corcunda de cada vez.².

Estaremos a assistir ao declínio iminente da área de distribuição dos golfinhos-corcunda do Atlântico? Estarão à beira de serem extirpados da parte mais a norte da sua área de distribuição?  Há uma necessidade urgente de realizar levantamentos sistemáticos a partir de barcos e entrevistas nesta área a fim de melhor compreender A) se pode haver mais AHD algures na Baía de Dakhla ou na área circundante; e B) que ameaças estão, e têm estado presentes, que possam estar a contribuir para o aparente declínio desta população. O CCAHD espera trabalhar com o TYA e quaisquer outros potenciais parceiros na região que possam ajudar a mobilizar os recursos necessários para a realização de inquéritos sistemáticos. Entretanto, o CCAHD tem partilhado recursos e protocolos com Hamid e Dahi para os ajudar a recolher dados sobre os seus rastros de embarcações e avistamentos de golfinhos durante as suas viagens pela vida selvagem. Na ausência de financiamento dedicado, esta será uma forma de começar a documentar a distribuição dos golfinhos em relação ao local onde o TYA conduz o seu trabalho.

 

Referências

1             Notarbartolo di Sciara, G., Politi, E. & Bayed, A. A winter cetacean survey off southern Morocco, with a special emphasis on right whales. 547-550 (International Whaling Commission, 1998).

2             Moores, R. The future of Atlantic Humpbacked Dolphins Sousa teuszii in Dakhla Bay, Atlantic Sahara. Go-South Bulletin 15, 166-171 (2018).